A casa de Marcos era excelente, grande e bem localizada. Definitivamente cirurgia plástica deve dar bastante dinheiro. Ele pagou o taxi e levou as malas para dentro, em seguida fez um tour comigo.
Havia um quintal bem grande com uma piscina, uma cozinha americana, uma sala de jantar, uma de estar e uma de TV cheia de coisas tecnológicas incríveis que eu sempre quis ter. No segundo andar haviam dois banheiros fora o da suíte e quatro quartos. Cada filha dele ficava com um, tinha o de casal e o de hóspedes. Eu queria muito poder ficar no de hóspedes, mas sabia que com as meninas ali eu teria que fingir ser mais que um hóspede, eu seria parte do casal. Dormiria no nosso quarto, na nossa cama. Aquilo me dava arrepios.
O tal nosso quarto era bem grande com uma grande cama de casal no centro e até um sofá. Haviam duas grandes portas de correr nele, uma que levava a um incrível banheiro equipado com hidromassagem e a outra, bem a outra dava para um enorme closet, meu closet por aquela semana, abarrotado de roupas da Silvia, roupas ultra femininas, minhas roupas.
Não demorou muito para as filhas de Marcos chegarem, ele havia me contado que a mais velha se chamava Juliana e a mais nova Priscila. Fui recebê-las com ele. Elas tinham vindo com a mãe, uma mulher magra, de rosto bem quadrado, mas suave. Tinha cabelos loiros e pequenos olhos verdes que ficaram ainda menores e se contorceram quando me viram. Ela cumprimentou Marcos e apenas me olhou com desprezo. As meninas abraçaram o pai com alegria e me deram beijos na bochecha. Me chamaram de tia Silvia.
As garotas foram logo entrando e quando eu percebi estava ali na porta ainda, completamente sem lugar, enquanto Marcos e a ex conversavam em voz baixa. Resolvi entrar também e encontrei com Juliana na sala. Ela era bem magra e um pouco mais alta que eu. Uma garota de quatorze anos, mais alta do que eu. Ótimo.
“Como foi de viagem tia Silvia?” Ela perguntou meio distraída.
“Foi... foi ótimo...”
“Que bom! Você cuidou bem do meu pai então?” Ela continuou.
“Eu... cuidei... claro que cuidei...” Eu disse e tentei sorrir.
“Legal!” Ela disse e subiu as escadas.
Eu não sabia bem o que fazer, como devia me comportar, mas percebi que estava com bastante fome. Mesmo um pouco sem jeito por não ser minha casa, resolvi procurar algo para comer na cozinha e decidi ser simpático e prestativo com as garotas, afinal eu era a madrasta delas por aquele tempo. Subi a escada e perguntei do corredor. “Meninas, você estão com fome? Querem comer algo?”
Um silêncio foi minha resposta por um tempo até que as duas foram até as portas de seus quartos se olharam e riram de um jeito estranho. Então Juliana disse. “Eu to, a Pri também!”
“Eu vou ver o que arrumo pra vocês então, tá?” Eu disse me considerando um ator digno de Oscar, elas se olharam de novo e rolaram de rir. Eu não entendi muito bem e desci para a cozinha.
Achei pão de forma e frios na geladeira. Em cima de uma mesa ainda achei um daqueles grills para fazer tostex e preparei quatro lanches. Pensei na minha fome e no péssimo serviço da companhia aérea e deduzi que Marcos também quisesse um e, obviamente, não custava nada fazer um pra ele também. Quando eu estava terminando de fazer o último lanche, ele entrou.
“Er... Desculpa, eu tava com fome e as meninas também... eu... bom, desculpa ter mexido nas coisas sem pedir...” Eu disse sem graça.
Ele sorriu. “A casa é sua também, pelo menos até sexta. Você tá fazendo lanche pras meninas?”
“To... eu ia fazer pra mim, tava com fome e, bom, não custava fazer pra elas né? Afinal, eu sou a madrasta delas nessa semana... enfim... Bom, fiz um pra você também... Eu tava morrendo de fome, achei que você também pudesse estar...” Disse meio envergonhado.
“Estou sim... muito obrigado, Silvia!” Ele disse, frisando o nome que eu estava usando e me olhou de um jeito meio estranho, sorrindo.
“Que foi?” Eu perguntei finalizando o lanche e colocando tudo na mesa.
“Nada...” Ele disse sorrindo mais. “Meninas! O lanche que a Silvia preparou pra vocês tá pronto, venham, desçam pra comer...”
As meninas desceram sorridentes. Assim que chegaram Marcos falou. “Meninas, hoje é um dia de comemoração! A primeira vez que a Silvia faz algo na cozinha!” As meninas gargalharam e então eu entendi o porque de todas as risadinhas e os olhares de Marcos. Eu sorri meio sem graça e fingi uma cara de bravo pra ele, as meninas riram ainda mais.
Aquilo me deixou preocupado, eu estava agindo de um jeito diferente de Silvia , precisaria ficar mais atento dali por diante, ainda bem que Marcos deu um jeito.
Comemos juntos. Contamos da viagem e elas contaram o que fizeram enquanto estávamos por lá. Elas eram garotas muito educadas e pareciam bem inteligentes. Juliana era muito falante, bem articulada e Priscila era uma bonequinha sorridente.
Fomos para o quarto em seguida, eu realmente precisava descansar e dormir um pouco. Assim que entramos falei com ele. “Cara, desculpa, eu quase me entreguei, não sabia que Silvia nunca tinha feito nada na cozinha... Vou me policiar mais...”
“Magina, foi ótimo... as meninas nem passaram perto de desconfiar de nada, elas nem são muito próximas da Silvia, fica tranquilo, na verdade, acho que elas adoraram, isso sim.” Ele disse sem nenhuma preocupação e aliviando bastante a minha também. “Agora...você ficar me chamando de ‘cara’, vai nos complicar.” Ele riu.
“Ops... tá bom... querido? É assim que ela te chama? Por favor não diz que é morzão ou thcutchuquinho...”
Ele riu de novo.”Querido tá bom... Quer tomar banho primeiro?”
Eu aceitei a oportunidade e me enfiei no chuveiro, passei o banho todo paquerando a banheira, com certeza em um dos dias que estivesse por lá eu a usaria. Saí do chuveiro e me arrependi de ter lavado o cabelo, era hora de secá-lo. Mesmo sem a verdadeira Silvia pra me vigiar, eu sabia que se dormisse com ele molhado eu traria ainda mais problemas pra mim. Respirei fundo e encarei o secador. Outra lembrança me embrulhou o estômago, eu simplesmente havia esquecido de levar roupas para o banheiro, como fui idiota, teria que sair de toalha, na frente de Marcos. Não que ele nunca tenha visto este corpo nu, mas bom, comigo dentro não.
Saí devagarinho, com a toalha enrolada como as mulheres fazem, em cima dos seios. Ele estava sentado na cama e eu não gostei muito do olhar dele.
“Você realmente tá virando mulher hein?” Ele disse sorrindo. Eu me desconsertei, meu coração havia disparado. O que ele queria dizer com aquilo?
Eu estava tão envergonhado de estar ali só de toalha na frente dele que só olhei meio assustado. Eu sabia muito bem que tem poucas coisas mais sensuais que uma mulher saindo do banho. E, droga, eu era a mulher naquele momento.
“Mais de meia hora...” Ele disse se levantando.
“Desculpa...eu...”
Ele entrou no banheiro rindo e eu corri para o closet.
A minha situação em relação as roupas não havia melhorado muito. A não ser por quantidade, porque o estilo era o mesmo. Suspirei e vesti uma calcinha branca lisa, mas pequena e um sutiã branco que acabei achando bem confortável. Achei uma camisetona grande que apesar de ter um desenho enorme de um gato rosa cobria bem meu corpo. Ainda assim vesti um short de ginástica azul, daqueles bem colados por baixo.
Me joguei na cama, que por sinal era deliciosa e dormi em minutos.
Acordei com aquilo que já estava começando a virar meu despertador. Marcos me chamando. Ele me falou que já passavam das nove da noite e que ele e as meninas iam pedir uma pizza. Eu também estava com fome e resolvi acompanhá-los. Vesti uma calça legging preta e uma camiseta azul clara não tão longa quanto a do gato, mas que pelo menos também cobria minha bunda, e desci.
Encontrei as meninas pondo a mesa e fui ajudar. Independente da real Silvia não ser nada prestativa, e eu teoricamente, dever imitá-la, eu me sentia um hóspede ali e minha educação era mais forte do que meu poder de atuação. Eu sentia necessidade de ser, no mínimo solícito. Enquanto eu pegava copos, as meninas me olhavam com surpresa. Estava claro que a dona do meu verdadeiro corpo nunca movia uma palha para nada.
A pizza chegou, Marcos pegou e pagou por ela. Sei que ali eu era sua esposa e não devia me preocupar com nada daquilo, mas eram coisas desse tipo que me faziam querer agradecer sendo prestativo. O jantar foi ótimo, definitivamente, as meninas eram crianças incríveis, meigas e agradabilíssimas de se ter por perto. Não conseguia parar de pensar em ter filhos com Marília, estava certo de que proporia isso pra ela assim que voltasse ao normal.
Quando todo mundo acabou de comer eu acabei tendo uma ótima ideia. Uma vingança perfeita que no fim das contas só faria bem pra todo mundo. Eu seria a melhor madrasta que eu conseguisse ser para aquelas adoráveis meninas. Elas ficariam felizes, eu me sentiria menos aproveitador e Silvia, no mínimo, aprenderia alguma coisa tendo que se equiparar com a minha semana para continuar agradando aquela famíla.
“Podem deixar que eu tiro os pratos!” Eu disse como fala de abertura do meu novo personagem. As meninas comemoraram e correram para a sala de TV. Marcos sorriu. “Eu te ajudo...”
“Você vai nos acostumar mal assim.” Ele disse baixinho enquanto arrumávamos a cozinha.
“Essa é exatamente minha ideia. Sabe, andei pensando, não é que eu quis vir pra cá ficar aqui essa semana, mas sendo assim, mais prestativo, agradeço sua hospitalidade. Além disso, faço bem pra suas ótimas filhas... e bom, tem alguém que me deve algumas coisas e parece que é bem relapsa por aqui... Desse jeito, também me vingo um pouquinho da Silvia que vai ter que correr atrás pra se equiparar comigo durante essa semana, e vai saber... Quem sabe ela não aprende um pouco?”
“Olha, preciso dizer que foi a melhor ideia que ouvi nos últimos tempos!” Marcos me disse me olhando nos olhos e me deixando estranho.
Terminamos a noite assistindo uma comédia romântica que, segundo Marcos, era a vigésima vez que as meninas assistiam e pouco mais de meia noite, eu estava no quarto, com meu marido, para ter a nossa primeira noite na mesma cama.
“Você sabe que vai ser arriscado se não dormimos juntos aqui né?” Ele disse já se desculpando do inevitável. Eu apenas concordei com a cabeça. “Pensei em colocar um colchão aqui, mas as meninas acordam e já vêm pra cá quando estão de férias, elas iam perguntar coisas...”
“Cara... quer dizer... tudo bem, eu entendo. Só controla essas mãos aí. Eu não sou sua esposa, sacou?”
“Falando desse jeito, fica bem claro.” Ele riu. “Não, sério, fica tranquilo, eu me comporto.”
Voltei para o short azul e a camiseta do gato e deitei ao lado de Marcos. “O que eu vou fazer amanhã? O que Silvia normalmente faz?”
“Que eu saiba, ela vai todo santo dia na academia...”
“Acho que dispenso...”
“Ela costuma ir bastante no shopping também... com o meu cartão... acho que você pode dispensar essa também...” Ele riu. “A piscina... Ela toma bastante sol na piscina, ah... tem as aulas dela a noite, é bom você ligar pra dizer que não vai...” Ele ficou quieto um tempo e eu perguntei.
“Só isso? Nada mais? Então eu continuo praticamente de férias...”
Ele riu. “Pois é, pois é...”
“Posso dar uma volta com as suas filhas? Cinema, teatro, sei lá, onde elas quiserem?”
“Você tá mesmo levando seu plano a sério né?”
“Bastante.”
Mais risos dele. “Pode sim, claro, elas vão adorar...”
Era bem estranho estar ali, conversando na cama, de luz apagada, com outro homem. Aquilo era uma intimidade que eu, definitivamente, não queria ter com outro cara. Mas eu não tinha escolha, virei para o lado oposto dele e, desconfortavelmente, dormi.
Acordei confuso, sem saber onde estava, sem saber quem eu era. Mas peitos e cabelos compridos mais uma vez me colocaram no lugar, no lugar de Silvia. Marcos não estava mais na cama e eu ouvia vozes pela casa. No criado mudo havia um bilhete e chaves de carro. O bilhete dizia que aquelas eram as chaves do carro de Silvia, um Honda fit, e que, claro, eu poderia usá-lo. Dizia também para eu usar o cartão dele que deveria estar dentro da minha carteira. Lá estava eu, sendo a esposinha bancada com o cartão do marido. Ótimo.
Fui ao banheiro, escovei os dentes, penteei meus cabelos, vesti a mesma roupa da noite anterior e desci. As meninas tomavam café.
“Bom dia!” Elas disseram quando me viram, eu respondi, sorri, me servi de um copo de suco e sentei com elas.
"E aí? Qual a programação do dia?" perguntei e as duas se olharam estranhamente de novo. Até que Juliana se levantou andou até mim e colocou a mão na minha testa. Eu a olhei estranhando tudo.
"Hmmmm febre não é...” Ela riu. “Sério... O que aconteceu com você nessa viagem?"
Eu ri, entendendo o estranhamento delas e resolvi seguir com o meu plano. "Nada, é só que eu achei que eu não estava me comportando direito por aqui e resolvi mudar!”
"Eba! Você tá muuuuuito mais legal!" Priscila falou e as duas riram.
"Sem contar o jeito, você tá diferente... Não fica brava, mas você ta bem menos peruona." Juliana falou e Priscila desabou em risadas. Eu sorri também.
Sobre o meu jeito mais masculino eu preferi não entrar em detalhes e cortei logo o assunto. "Bom, se eu to mais legal, o que vamos fazer hoje? Essa semana a gente vai se divertir!"
Eu disse aquilo genuinamente, eu não tinha duvida que levar aquelas gracinhas para se divertir seria muito melhor do que ficar trancado em casa lamentando toda aquela loucura.
"Hopi Hari!" Priscila gritou rapidamente quase junto com a fala de Juliana. "Shopping!"
"Hmmmm Hopi Hari acho que podemos tentar ir amanhã cedo, depois que eu falar com o pai de vocês, mas shopping não vejo por que não. Que tal shopping hoje e Hopi Hari amanhã? Podemos até pegar um cinema, o que acham?"
Priscila abriu um enorme sorriso. "Eba!" e Juliana disse sorrindo. "Perfeito!"
Da área de serviço aparece uma mulher mais velha, vestindo branco. "Bom dia Dona Silvia, como foi de viagem? Quer sua salada de fruta?"
Sem duvida, aquela devia ser a empregada deles, mas eu nem sabia seu nome.
"Foi tudo ótimo... Não precisa da salada não, eu já to comendo aqui com as meninas. Obrigado."
"Obriga-DA, tia Silvia, você é menina." Priscila corrigiu meu ato falho.
Eu tive que rir. "Tem razão! Obriga-DA!”
Resolvemos sair um pouco antes do almoço para comer fora. Dispensei a empregada de fazer comida e subi para me trocar e ligar para Marcos. Ele gostou da ideia do shopping e do hopi hari e disse que eu podia gastar moderadamente com as duas e confiava no meu julgamento. Eu nem tinha como usar meu próprio dinheiro, então aceitei.
Vesti uma calça jeans muito mais justa do que eu gostaria que fosse e uma regata amarela básica. Nos pés coloquei o mesmo sapato meio sapatilha que tinha voado comigo de volta. Me olhei no espelho e, infelizmente, eu tava bem gostosa. Ainda passei um pouco de batom e perfume. Peguei a bolsa rosa mesmo, já que eu não queria ter que trocar as coisas de lugar e desci.
As meninas ainda estavam se trocando então aproveitei para ligar para o meu ‘trabalho’.
“Alô, escola de artes sensuais Sexy Godess, bom dia...” Esse era o nome da escola que Silvia lecionava.
“Bom... bom dia... Aqui é a Silvia...”
“Oi Silvinha! Como foi de viagem.” A garota do outro lado respondeu me reconhecendo.
“Foi ótimo... quer dizer... aconteceu um imprevisto...”
“Não vai dizer que não pode dar aula, suas alunas estão loucas!”
“Pois é... eu torci o pé, acredita?”
“Mentira! Que droga, Silvinha... suas alunas vão ficar muito tristes...”
“Não é nada sério, semana que vem eu já volto, pode avisá-las!”
“Tudo bem, melhoras pra você então, querida!”
“Obrigado, Obrigada! até mais, falou, quer dizer... tchau, tchauzinho, beijo, tchau...”
Ela soltou um risinho da minha confusão na hora de me despedir. “Beijinho, querida, tchau!”
Desliguei o telefone e as meninas já estavam descendo. Não foi difícil achar o carro na garagem, mas foi difícil ajeitar o cinto de segurança entre meus peitões. Fora isso, saí tranquilamente com o carro em direção a um dos grandes shoppings da cidade.
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