domingo, 9 de setembro de 2012

UMA PROFUNDA TROCA DE CASAIS CAP. 09


Chegamos ao shopping rapidamente, não estava muito cheio, em sua maioria, as pessoas ali ou eram adolescentes de férias ou peruas como eu. Ou seja, encaixávamos muito bem naquele cenário.

Era estranho ter que andar carregando uma bolsa sem ser no aeroporto ou indo para praia, mas o pior eram os olhares, dava pra perceber cada homem tentando ter uma vista melhor da minha bunda. Definitivamente, eu estava vivendo uma vida diferente.

Decidimos almoçar antes, mas até chegarmos a praça de alimentação, paramos em quase todas as lojas no caminho para no mínimo olhar as vitrines. Juliana estava em êxtase, parecia estar em transe. O resultado foi que sentamos na mesa da lanchonete já com duas sacolas.

Conhecendo meu novo apetite nesse corpo, resisti às minhas gula e costume e ao invés de pedir o maior lanche do lugar, pedi um dos menores. Dessa maneira, também não levantei nenhuma suspeita.

Após o divertido almoço continuamos a nossa peregrinação. Foi bem difícil controlar as meninas para que gastassem moderadamente. Eu entrava nas lojas sorrindo e conversava sobre nada com as vendedoras enquanto as meninas experimentavam milhares de coisas. Depois pagava tudo com o cartão de crédito de Marcos para o delírio das meninas e das vendedoras.

Juliana e Priscila me mostravam tudo e eu tinha que ficar fingindo me interessar por aquele rio de peças de roupas femininas que passava pela minha frente. Elogiava uma ou outra coisa de modo aleatório, tentando participar de tudo de um modo convincente, às vezes até arriscava palpites que pareciam demonstrar algum entendimento sobre o assunto.

A parte mais complicada foi ter que ficar recusando as infinitas ofertas das vendedoras desesperadas e às vezes até bem bonitinhas. Claro que viam em mim o alvo perfeito: a perua saindo com as enteadas e o cartão do maridão. Grudavam como carrapatos e me ofereciam tudo, dei até a sorte de duas ficarem praticamente seminuas me mostrando o caimento de uns tops. Mal sabiam elas que era um homem que estava carregando aqueles peitões siliconados que deixavam os delas no chinelo, pelo menos no quesito tamanho.

Tudo ia relativamente bem, eu estava me esquivando com categoria das vendedoras e atuando bem no meu papel, até que em uma das lojas Juliana chegou com um vestido na mão e parou bem na minha frente com um enorme sorriso no rosto. "Tia Silvia, você tem que levar esse! É a sua cara!" Ela o estendeu então: rosa, de tecido leve, que parecia muito pequeno para caber em mim.

"Magina Ju..." eu ri tentando dissuadí-la. "Além do mais, hoje é o dia de vocês!"

"Ah não... Por favor... Só prova, você vai ver..." Ela insistia.

Eu não sabia o que fazer. Obviamente, não queria comprar aquele vestido rosa, muito menos com o dinheiro do Marcos.

"Por favor... Tia Silvia... Experimenta..." Priscila entrou na conversa sorrindo seu belo sorriso e brilhando seus enormes olhos claros.

"Não vai doer nada..." Juliana decretou meu destino e quando dei por mim, me vi dentro de um cubículo cercado de espelhos para provar o tal vestido.

Me despi ali dentro, ainda analisando minhas novas curvas. Eu realmente estava na pele de um mulherão. Coloquei o vestido que era bem justo com certa dificuldade já ouvindo os gritos agudos vindos do lado de fora.

"Colocou? Colocou?" as meninas gritavam animadas. "Queremos ver!"

Para o meu desespero, o vestido servia perfeitamente e era curto, um tanto acima do joelho. Pra piorar ainda me deixava com um belo decote. Não tinha como negar, eu ficava absurdamente gostosa dentro dele.

A cabeça de Juliana apareceu entre a cortina enquanto eu checava minha bunda. "Uau!" ela disse e abriu o provador.

"Tia Silvia, você ta linda!" Priscila disse passando sua pequena mão sobre o vestido.

Juliana me olhou bem séria e cinicamente disse. "Bom, se você não comprar, eu compro com a minha mesada..."

"Ju, eu não preciso de mais um vestido... Seu pai deixou o cartão comigo e... Deve ser caro. Eu não quero..."

"A gente divide em até 6 vezes..." a vendedora se intrometeu, piorando minha situação.

"Pronto, está resolvido! O vestido vai, se meu pai reclamar, eu falo que eu te chantageei." Juliana disse sorrindo. Eu ainda tentei arrumar desculpas, mas no fim, sai da loja com um vestido que me deixava a mulher mais sexy do mundo, pago com o cartão do meu marido.

Estávamos abarrotadas de sacolas, até Priscila carregava coisas nas pequeninas mãos. Eu me torturava pensando em como Marcos ficaria decepcionado comigo por não ter segurado as meninas e ainda ter comprado um vestido pra mim. Mas eu simplesmente não consegui. Elas pareciam leoazinhas selvagens atrás de suas presas. Deixamos as compras ocupando todo o porta mala do carro e fomos ao cinema.

Assistimos mais uma comedia romântica, acho que estava fadado àquilo enquanto estivesse ao lado dessas meninas e uma tela na nossa frente.

Depois do filme ainda tomamos sorvete e finalmente voltamos para casa, eu me sentia cansado, mas muito leve e feliz. Apesar de tudo, as meninas continuavam confirmando que eram realmente adoráveis. Mas, mais que isso, durante todo aquele dia me fizeram esquecer de toda maluquice que eu estava envolvido.

Chegamos em casa antes de Marcos, o que me deixou mais tranquilo, pelo menos ele não veria a quantidade exagerada de sacolas que havíamos trazido.

Fui para o quarto tomar banho e não me esqueci de pegar a roupa. Imaginei que Marcos não demoraria para chegar. Fiz bem, assim que saí do banheiro vestindo uma camiseta amarela e a bermuda de ginastica, Marcos estava sentado na cama e as meninas faziam uma espécie de desfile de moda para ele.

"Oi... Querido..." eu disse um pouco sem graça e estranhando muito chamá-lo daquele jeito sem ser brincando.

"Olá!" Ele disse sorrindo. "As meninas estão aqui me mostrando as compras!"

Antes que eu pudesse começar a me desculpar por tudo, Juliana me colocou em uma situação ainda pior.

"Você tem que mostrar pro meu pai o seu vestido novo também!"

"É! Você também tem que participar do desfile!" Priscila se juntou ao coro.

Marcos me olhou intrigado, mas sorrindo. "Ah... Você comprou um vestido pra você também?"

"Não briga com ela pai... A gente que insistiu..." Juliana me defendeu.

"É... A gente que pediu e ela ainda dividiu em 6 vezes..." Priscila acrescentou fazendo Marcos rir ainda mais.

"Eu... Eu..." Fiquei ali parado, sem saber o que dizer e o que fazer. Juliana agiu por mim, agarrou minha mão, a sacola e me arrastou para o closet.

"Meninas, se a Silvia não quiser... Não precisa, acho que ela... Marcos ainda tentou me salvar daquilo, mas Juliana apenas respondeu. "Bobagem, claro que ela quer!" e bateu a porta na cara dele.

Em minutos eu estava dentro daquele vestido e sobre um sapato de sato alto também rosa que Juliana tinha escolhido pra mim. Ela abriu a porta do closet e gritou. "tcha- nan! E aqui está a modelo Silvia produzida pela grande estilista Juliana!"

Os olhos de Marcos imediatamente vidraram em mim. Como culpá-lo? Eu sabia bem como eu estava. Um espetáculo para qualquer olhar masculino. Ele ficou um bom tempo ali parado, apenas babando por mim, os olhos dele diziam tanta coisa. Um calor invadiu meu corpo de forma inesperada. Pior, eu senti algo estranho acontecer lá embaixo, entre as minhas pernas. O olhar dele, ao mesmo tempo que me constrangia, pra minha imensa vergonha, também, de alguma forma, me fazia bem, dava um sentimento... Gostoso... Um frio na barriga, dos bons. Eu só queria me enfiar embaixo da terra, mas Juliana me deu um tampinha na bunda e disse baixinho. "Vai desfila..."

Eu dei alguns passos desajeitados. Eu não estava acostumado a andar de salto alto e ainda tinha uma tonelada de vergonha sobre os meus ombros. Isso sem contar toda a confusão que aqueles sentimentos bizarros aprontavam na minha cabeça.

Marcos continuava em transe e eu sabia exatamente o que se passava em sua cabeça, ele queria me comer, queria me agarrar ali mesmo e aquilo, minha nossa! Aquilo não me deixava enojado como eu achei que deveria. O que estava acontecendo comigo?

As meninas soltaram algumas vaias de brincadeira, dizendo que eu era uma péssima modelo e finalmente Marcos recobrou a consciência. "Chega meninas, deixem a Silvia em paz, hora do banho e depois de jantar."

"Tia Silvia, era brincadeira, você não é uma péssima modelo..." Priscila disse antes de sair.

Todo mundo riu e eu puxei forças contra todo o constrangimento e confusão que me assolavam naquele momento para dizer. "Eu vou treinar meninas, prometo!"

Elas saíram risonhas e eu fiquei ali no quarto dentro daquele vestido que me fazia transbordar sensualidade, sozinha, com o meu marido. Eu coloquei as mãos para frente do corpo, sem jeito. Ele me olhava ainda sorrindo, simpaticamente, mas eu ainda podia ver luxuria em seus olhos, a luxuria que me deixava estranho, prazerosamente estranho.

Ele brincou, me provocou para quebrar o gelo, como sempre fazia naqueles momentos esquisitos. "Você comprou esse vestido pra você é? Quem diria..."

"Foi... Foi a Juliana que... Bem... As meninas, elas..." eu balbuciei qualquer coisa enquanto torcia os dedos das mãos.

"Eu sei, eu sei, a Juliana com o jeito mandão dela e a Priscila com a carinha de pidona são impossíveis de se controlar. Pode tirar o vestido, mas bem..." Então, o rosto dele também deixou escapar constrangimento. "ele ficou realmente... Bom... Ótimo em você... Sei que não... desculpa... eu..."

Deixei ele ali falando e entrei no closet assustadíssimo. Eu gritava pra mim mesmo. “O que foi que aconteceu ali?” Fiquei apenas respirando fundo por alguns minutos e depois vesti as roupas de antes. Coloquei a mão na maçaneta umas quatro vezes antes de ter coragem de encará-lo de novo. Quase comemorei quando voltei e vi que ele estava no banho.

Me joguei na cama pensando em tudo aquilo, será que ele estava começando a confundir as coisas? E eu? O que estava acontecendo comigo? Que sentimentos eram aqueles? Hormônios feminino? Reflexos desse corpo? Quando ele me olhou daquele jeito, eu... droga... eu não achei ruim, na verdade, minha nossa, foi bom. Será que eu estava virando gay? Eu nunca havia me sentindo atraído por nenhum homem, não estou dizendo que estava atraído por Marcos, de jeito nenhum! Mas aquilo... foi tão estranho.

Ele saiu do banheiro quieto e olhando para qualquer lugar menos pra mim, eu fiz o mesmo. Quando cruzamos olhares, rapidamente desviamos. Ele também estava constrangido. Ele também havia sentido o algo estranho. Aquilo era um clima? Eu estava tendo um clima com outro homem?

Eu tinha que acabar com aquilo, respirei fundo, limpei a garganta e empostei a voz para falar sério, tentando ignorar tudo aquilo. "Desculpa pelas compras exageradas... Eu... Eu não fui capaz de segurá-las." Ele entrou no meu jogo, também pareceu respirar fundo e tentar deixar toda aquela estranheza de lado. Sorriu e tirou um bom tanto de peso do ar.

"Ah... nem se preocupa, eu entendo bem... Pidona e mandona, lembra? Sei bem como são minhas filhotas..."

"Mas elas são demais, cara! São ótimas meninas, foi uma tarde divertida." Eu disse 'cara' propositadamente, para tentar lembrá-lo e, bem,  para confirmar para mim mesmo também, quem eu realmente era. Um homem, que fala ‘cara’ quando se refere a outro homem e não ‘querido’. Ele não me corrigiu, fingiu nem perceber também. Acho que funcionou para os dois.

"Elas também adoraram, muito obrigado por cuidar delas!"

"Que é isso... É o mínimo que posso fazer... Além do mais, como eu disse, não é nenhum esforço, elas são incríveis, cara!"

Depois do jantar falei com Marília no telefone e me senti um pouco melhor. Um pouco mais eu, pelo menos. Ela estava um pouco preocupada com meu corpo habitado por Sílvia, disse que ela sumia e a deixava sozinha por horas para depois ainda voltar bêbada. A desgraçada estava aproveitando meu corpo do pior jeito possível. Bom pelo menos, eu estava com a minha vingança do bem andando a todo vapor. Ela teria uma surpresinha quando voltasse, todo mundo ia querer ela participando muito mais dos deveres da casa e sendo muito mais simpática.

O resto da noite passou sem nada muito diferente acontecer, eu só tentava esquecer todo aquele clima, aquele maldito vestido e aqueles sentimentos estranhos. Acho que Marcos também, senti que ele evitava me olhar. Dormi bem mais desconfortável do que de costume aquela noite.

Acordei cedo no dia seguinte, era o dia de Hopi Hari e aquilo me animava, seria um dia todo distraído pelas garotas e longe daquele clima estranho com Marcos.

Vesti o short mais comprido e menos justo que achei, um branco de tecido. O mais comprido, mas mais curto do que eu gostaria, minhas pernas ficavam praticamente inteiras de fora e ele ainda modelava minha bunda. Em cima vesti uma camiseta justa roxa e nos pés uma sandália branca de salto baixo. Sabia que o dia seria longo e queria ficar confortável.

Fora do quarto, encontrei Priscila prontinha apressando Juliana que se movia sonolenta. Tomamos café rapidamente, seguindo os pedidos da garota mais nova para acelerarmos. Ela estava realmente ansiosa.

Apesar de ser uma pequena viagem, chegamos rapidamente até ao parque com Priscila empolgadíssima no carro, relatando tudo que iria fazer. O parque estava relativamente vazio e nada atrapalhou nossos planos. Andamos em todos os brinquedos que as meninas quiseram, repetimos os favoritos, almoçamos, tomamos sorvete e aproveitamos tudo que o parque tinha a nos oferecer.

Tirando os olhares masculinos e a vez que tive que dividir o assento de um brinquedo com um adolescente que propositadamente encostava em mim mais que o necessário e ainda olhava para os amigos se vangloriando de estar ao meu lado, o dia foi ótimo e, como esperado, me tirou de todo caos de pensamento que eu estava.

Quase na hora de ir embora, no fim da tarde, início da noite, meu celular tocou e assim que a voz do outro lado falou, eu senti o maldito frio na barriga. Era Marcos e eu me surpreendi muito ao sentir aquilo só de ouvir a sua voz. Ele, como sempre, foi simpático e cuidadoso, querendo saber de nós. Eu contei um resumo do dia, avisei que já estávamos saindo e depois que desliguei voltei ao meu tormento mental. A voz do cara estava me dando frio na barriga? O que era aquilo afinal? Eu estava virando a mulher dele, de verdade?

As meninas até estranharam meu silêncio na volta. Eu disse que era apenas cansaço, mas na verdade eu estava quase chorando de preocupação. Eu não tinha a menor ideia do que estava acontecendo comigo e aquilo me assustava muito.

Tudo ainda piorou quando chegamos em casa e eu vi Marcos. Ele sorriu saindo da cozinha com um avental, o sorriso dele quase me derreteu, ele estava preparando o jantar pra gente, ainda disse que tinha deixado a banheira preparada pra mim. O sorriso, o olhar dele, as atitudes, tudo aquilo me deixava ansioso e extremamente confuso, mas não tive como não abrir um grande sorriso e agradecê-lo.

Subi até ao banheiro e, realmente, lá estava ela implorando para que eu entrasse nela. Fumaça ainda saia da água enquanto eu tirava minhas roupas. Parecia que Marcos estava lendo meus pensamentos, aquele banho era tudo que eu precisava.

Coloquei um pé e senti a água o cobrindo como um leve e suave cobertor, quente e confortável. Coloquei o segundo e em seguida fui me abaixando, a água me abraçava. Quando me tocou ali no meio das pernas então, quase soltei um gemido. Fui deixando meu corpo ser acariciado pelo líquido. Meus seios flutuavam um pouco, eu não resisti e os agarrei, a sensação era incrível e não demorou para influenciar na umidade da minha vagina.

Eu sabia o que estava prestes a acontecer e aquilo fazia eu me sentir culpado. Tentei me controlar, tentei tomar apenas o banho, mas aquela coisa que eu tinha agora entre as pernas, parecia ter vida própria e implorava por atenção. Quando percebi eu já estava me esfregando ali embaixo e colocar um dedo ali dentro foi apenas uma conseqüência natural.

Acho que posso ter gemido mais alto do que planejei, mas não foi aquilo que me corroeu quando me recuperei de um orgasmo. Foram as imagens que passavam pela minha cabeça enquanto eu me masturbava, disformes, embaçadas, mas com certeza não eram Marília, pior, não eram nem imagens de mulheres. Os fantasmas que me assombravam na banheira tinham todos o sorriso e o olhar de Marcos.

Terminei o banho e sai desolado, confuso. Pensei em nem descer, pra não ter que encará-lo, mas aquilo seria uma desfeita horrorosa. Odiei mais uma vez o closet de Silvia, eu queria me esconder dos olhares de Marcos, mas ali só tinha roupinha pequena, decotes e coisinhas justas. Tudo inha, tudo rosa, tudo justo. Acabei com uma droga de uma calça legging preta e a camiseta do gato que chegava quase nos meus joelhos. Sabia que iriam estranhar eu repetir a roupa, mas naquele momento eu não queria nem saber.

Desci devagar e quieto. A mesa já estava posta e todos me esperavam.

“Ufa tia Silvia, até que enfim!” Priscila começou e Juliana continuou. “Estava morrendo de fome!”

Marcos apenas deu um maldito sorriso daqueles me deixava estranho e começou a servir a comida. As meninas passaram o jantar contando as aventuras conquistadas no parque. Umas duas vezes elas perguntaram confirmações pra mim e tiveram que me chamar mais de uma vez. Eu não estava ali, eu estava travando um conflito intenso com a minha masculinidade. Me desculpei, dizendo que era cansaço e nem fiquei com eles vendo televisão após o jantar, que para piorar, ainda estava uma delícia. Mais um acerto do meu marido!

No quarto falei com Marília pelo telefone e deitei bem cedo, mas demorei muito para dormir. Ainda mais depois que Marcos subiu. Eu fingi estar dormindo, mas não era nada mais que puro fingimento, pois a presença dele só deixou minha tranquilidade para pegar no sono ainda mais distante.

            Acordei duas vezes durante a noite suando frio, pesadelos com Marcos me agarrando inundavam minha cabeça. Pela primeira vez ouvi ele acordar, mas não fiz absolutamente nenhuma menção de demonstrar que eu estava acordado.

            Com ele fora da cama, finalmente consegui dormir mais tranquilo e só acordei com a empregada batendo na porta. "Dona Silvia, a Fátima já chegou!" Assustado e recém desperto, só respondi um desafinado. "Fátima?"

            A empregada respondeu meio impaciente. "É Dona Silvia... A manicure que vem toooodas as quartas feiras..." Sem ter muito mais o que responder, pedi para avisar que eu já estava descendo.

            Levantei o mais rápido possível, passei uma água no rosto, deixei meu cabelo apresentável e terminei as higienes matinais. Vesti a legging de novo, preciso confessar que era bem confortável, e uma camiseta regata rosa, mais comprida. Fui de chinelo mesmo, suspeitava que minhas unhas ali seriam repintadas também.

            Encontrei a tal Fátima na sala, uma garota morena que devia ter mais ou menos a idade de Silvia. Nos cumprimentamos com beijos no rosto. Percebi que as meninas estavam na piscina enquanto eu me acomodava em uma poltrona. Fátima preparou as coisas me perguntando da viagem e eu fui contando tudo dentro do personagem. Falei das praias, dos jantares, tudo de um jeito que ouvi as outras mulheres falando na praia. Eu estava virando uma mulher convincente.

            "Vou fazer na cor que você encomendou, certo?" Ela me perguntou e eu apenas deixei tudo acontecer, não seria uma cor de unha que iria piorar minha situação.

            Ficamos ali tagarelando e eu realmente estava me sentindo uma dondoca falando sobre amenidades com a garota que fazia minhas unhas. Quando ela acabou, eu tinha dez unhas muito bem pintadas de vermelho claro bem vivo, meio puxado para um rosa-choque. Agradeci a manicure, me despedi e a empregada me avisou que o almoço estaria pronto em meia hora. Definitivamente, aquela mulher não gostava de mim, ou melhor, de Silvia. Era sempre seca e muitas vezes até ríspida comigo. Não sei se eu a culpava tanto, eu mesmo não era nenhum fã da dona do corpo que eu ocupava, mas ainda assim, era chato agüentar aquilo.

            Fui até o quintal e avisei as meninas, elas só saíram da piscina quando eu prometi me juntar a elas por lá depois do almoço e foi o que eu fiz, após a refeição obriguei as meninas a esperarem umas duas horas e depois, lá estava eu de biquini de novo.

            Passei protetor solar e verifiquei se as garotas tinham feito o mesmo, em seguida, me deitei no sol e peguei uma revista para ler. Era uma revista feminina, mas pelo menos me distraía.

            Depois de algumas páginas lidas, percebi uma movimentação a mais na casa e para minha surpresa, um garoto de uns vinte e poucos anos aparece na minha frente. “Boa tarde Dona Sílvia...” Ele disse com um sorriso no rosto. Um péssimo sorriso safado. Eu até coloquei uma toalha sobre mim enquanto me perguntava quem era aquele cara.

            “Vou só fazer uma pequena poda hoje...” Ele disse respondendo meu questionamento mental, devia ser o jardineiro.

            Ele ficou ali mexendo nas plantas, eu voltei a ler e as meninas variavam entre brincadeiras na piscina e conversas comigo fora dela. Volta e meia eu pegava o moleque jardineiro me olhando e aquilo começou a me incomodar muito.

            Quando o sol já começava a dar sinais de se por. Eu falei para as meninas entrarem e irem pro banho. Eu planejava fazer o mesmo. Elas entraram correndo e eu fui recolher toalhas e copos que tinham ficado por ali. De repente senti algo agarrar o meu braço. Era o maldito jardineiro. “Finalmente ficamos sozinhos...” Ele disse perto do meu ouvido.

            Eu arranquei meu braço do dele. “O que é isso?”

            “O que é isso digo eu, gata... Passei tanto esperando esse dia, tava com saudades. Você foi viajar com o doutor idoso e me deixou aqui só com as plantas.” Ele disse passando a mão na minha bunda, na minha cintura.

            Eu sai correndo, me livrando das mãos dele. “Vou ligar agora mesmo pra polícia seu... seu...”

            Entrei na sala esbaforido e peguei o telefone, quando ia começar a discar uma mão desligou o aparelho, me virei e vi a cara da empregada.

            “Não Dona Sílvia, isso eu não vou deixar a senhora fazer. O doutor Marcos é um homem incrível e eu aguentei você o traindo com o meu sobrinho, bem debaixo do meu nariz. Pensa que eu não sei? Agora sei lá o que te deu depois dessa viagem que você tá toda diferente, mas eu, você não engana não! Isso é só mais um truque barato para sacanear o doutor Marcos mais uma vez e pior, agora ainda quer levar meu sobrinho pro buraco! Você é uma pilantra Dona Sílvia, nunca deixou de ser uma... uma... prostituta.” Ela cuspiu tudo aquilo em mim, como se estivesse guardado há anos. Foi um tremendo desabafo e eu só queria dizer que eu não era a ‘Dona Sílvia’.

            “Tia Maria...” O jardineiro balbuciou com os olhos esbugalhados, pelo menos, a partir daquele momento eu passei a saber o nome dela.

            Eu fiquei em silêncio, chocado. Eu não sabia o que dizer, nem o que pensar. A Sílvia estava traindo o Marcos com um garoto, um jardineiro. Eu tinha só que concordar com a empregada, com a Maria, Silvia ainda era uma vadia. Eu ocupava o corpo de uma vadia sem vergonha que traía o marido dentro da própria casa dele.

            Devolvi o telefone no gancho vagarosamente. Maria me olhou menos raivosa. “Desculpa Dona Sílvia, eu... eu...”

            Eu a interrompi. “Não Maria, você tem razão....” Foi o que eu disse. “Isso nunca mais vai acontecer...”

            Ela me olhou assustada, eu continuei. “Por favor, só não conte pro Marcos, ele não merece isso.”

            Ela apenas acenou positivamente com a cabeça, pegou o sobrinho pela mão, embora parecesse muito mais que ela o puxava pela orelha, e eles saíram, me deixando ali, pasmo por ter participado de uma cena de novela, como um protagonista.

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