Chegamos
ao shopping rapidamente, não estava muito cheio, em sua maioria, as pessoas ali
ou eram adolescentes de férias ou peruas como eu. Ou seja, encaixávamos muito
bem naquele cenário.
Era
estranho ter que andar carregando uma bolsa sem ser no aeroporto ou indo para
praia, mas o pior eram os olhares, dava pra perceber cada homem tentando ter
uma vista melhor da minha bunda. Definitivamente, eu estava vivendo uma vida
diferente.
Decidimos
almoçar antes, mas até chegarmos a praça de alimentação, paramos em quase todas
as lojas no caminho para no mínimo olhar as vitrines. Juliana estava em êxtase,
parecia estar em transe. O
resultado foi que sentamos na mesa da lanchonete já com duas sacolas.
Conhecendo
meu novo apetite nesse corpo, resisti às minhas gula e costume e ao invés de pedir
o maior lanche do lugar, pedi um dos menores. Dessa maneira, também não
levantei nenhuma suspeita.
Após
o divertido almoço continuamos a nossa peregrinação. Foi bem difícil controlar as
meninas para que gastassem moderadamente. Eu entrava nas lojas sorrindo e
conversava sobre nada com as vendedoras enquanto as meninas experimentavam milhares
de coisas. Depois pagava tudo com o cartão de crédito de Marcos para o delírio
das meninas e das vendedoras.
Juliana
e Priscila me mostravam tudo e eu tinha que ficar fingindo me interessar por
aquele rio de peças de roupas femininas que passava pela minha frente. Elogiava
uma ou outra coisa de modo aleatório, tentando participar de tudo de um modo
convincente, às vezes até arriscava palpites que pareciam demonstrar algum
entendimento sobre o assunto.
A
parte mais complicada foi ter que ficar recusando as infinitas ofertas das
vendedoras desesperadas e às vezes até bem bonitinhas. Claro que viam em mim o
alvo perfeito: a perua saindo com as enteadas e o cartão do maridão. Grudavam
como carrapatos e me ofereciam tudo, dei até a sorte de duas ficarem
praticamente seminuas me mostrando o caimento de uns tops. Mal sabiam elas que
era um homem que estava carregando aqueles peitões siliconados que deixavam os
delas no chinelo, pelo menos no quesito tamanho.
Tudo
ia relativamente bem, eu estava me esquivando com categoria das vendedoras e
atuando bem no meu papel, até que em uma das lojas Juliana chegou com um
vestido na mão e parou bem na minha frente com um enorme sorriso no rosto.
"Tia Silvia, você tem que levar esse! É a sua cara!" Ela o estendeu
então: rosa, de tecido leve, que parecia muito pequeno para caber em mim.
"Magina
Ju..." eu ri tentando dissuadí-la. "Além do mais, hoje é o dia de
vocês!"
"Ah
não... Por favor... Só prova, você vai ver..." Ela insistia.
Eu
não sabia o que fazer. Obviamente, não queria comprar aquele vestido rosa,
muito menos com o dinheiro do Marcos.
"Por
favor... Tia Silvia... Experimenta..." Priscila entrou na conversa
sorrindo seu belo sorriso e brilhando seus enormes olhos claros.
"Não
vai doer nada..." Juliana decretou meu destino e quando dei por mim, me vi
dentro de um cubículo cercado de espelhos para provar o tal vestido.
Me
despi ali dentro, ainda analisando minhas novas curvas. Eu realmente estava na
pele de um mulherão. Coloquei o vestido que era bem justo com certa dificuldade
já ouvindo os gritos agudos vindos do lado de fora.
"Colocou?
Colocou?" as meninas gritavam animadas. "Queremos ver!"
Para
o meu desespero, o vestido servia perfeitamente e era curto, um tanto acima do
joelho. Pra piorar ainda me deixava com um belo decote. Não tinha como negar,
eu ficava absurdamente gostosa dentro dele.
A
cabeça de Juliana apareceu entre a cortina enquanto eu checava minha bunda.
"Uau!" ela disse e abriu o provador.
"Tia
Silvia, você ta linda!" Priscila disse passando sua pequena mão sobre o
vestido.
Juliana
me olhou bem séria e cinicamente disse. "Bom, se você não comprar, eu
compro com a minha mesada..."
"Ju,
eu não preciso de mais um vestido... Seu pai deixou o cartão comigo e... Deve
ser caro. Eu não quero..."
"A
gente divide em até 6 vezes..." a vendedora se intrometeu, piorando minha
situação.
"Pronto,
está resolvido! O vestido vai, se meu pai reclamar, eu falo que eu te
chantageei." Juliana disse sorrindo. Eu ainda tentei arrumar desculpas,
mas no fim, sai da loja com um vestido que me deixava a mulher mais sexy do
mundo, pago com o cartão do meu marido.
Estávamos
abarrotadas de sacolas, até Priscila carregava coisas nas pequeninas mãos. Eu
me torturava pensando em como Marcos ficaria decepcionado comigo por não ter
segurado as meninas e ainda ter comprado um vestido pra mim. Mas eu
simplesmente não consegui. Elas pareciam leoazinhas selvagens atrás de suas
presas. Deixamos as compras ocupando todo o porta mala do carro e fomos ao
cinema.
Assistimos
mais uma comedia romântica, acho que estava fadado àquilo enquanto estivesse ao
lado dessas meninas e uma tela na nossa frente.
Depois
do filme ainda tomamos sorvete e finalmente voltamos para casa, eu me sentia
cansado, mas muito leve e feliz. Apesar de tudo, as meninas continuavam
confirmando que eram realmente adoráveis. Mas, mais que isso, durante todo aquele
dia me fizeram esquecer de toda maluquice que eu estava envolvido.
Chegamos
em casa antes de Marcos, o que me deixou mais tranquilo, pelo menos ele não
veria a quantidade exagerada de sacolas que havíamos trazido.
Fui
para o quarto tomar banho e não me esqueci de pegar a roupa. Imaginei que
Marcos não demoraria para chegar. Fiz bem, assim que saí do banheiro vestindo
uma camiseta amarela e a bermuda de ginastica, Marcos estava sentado na cama e
as meninas faziam uma espécie de desfile de moda para ele.
"Oi...
Querido..." eu disse um pouco sem graça e estranhando muito chamá-lo
daquele jeito sem ser brincando.
"Olá!"
Ele disse sorrindo. "As meninas estão aqui me mostrando as compras!"
Antes
que eu pudesse começar a me desculpar por tudo, Juliana me colocou em uma
situação ainda pior.
"Você
tem que mostrar pro meu pai o seu vestido novo também!"
"É!
Você também tem que participar do desfile!" Priscila se juntou ao coro.
Marcos
me olhou intrigado, mas sorrindo. "Ah... Você comprou um vestido pra você também?"
"Não
briga com ela pai... A gente que insistiu..." Juliana me defendeu.
"É...
A gente que pediu e ela ainda dividiu em 6 vezes..." Priscila acrescentou
fazendo Marcos rir ainda mais.
"Eu...
Eu..." Fiquei ali parado, sem saber o que dizer e o que fazer. Juliana
agiu por mim, agarrou minha mão, a sacola e me arrastou para o closet.
"Meninas,
se a Silvia não quiser... Não precisa, acho que ela... Marcos ainda tentou me
salvar daquilo, mas Juliana apenas respondeu. "Bobagem, claro que ela
quer!" e bateu a porta na cara dele.
Em
minutos eu estava dentro daquele vestido e sobre um sapato de sato alto também
rosa que Juliana tinha escolhido pra mim. Ela abriu a porta do closet e gritou.
"tcha- nan! E aqui está a modelo Silvia produzida pela grande estilista
Juliana!"
Os
olhos de Marcos imediatamente vidraram em mim. Como culpá-lo? Eu sabia bem como
eu estava. Um espetáculo para qualquer olhar masculino. Ele ficou um bom tempo
ali parado, apenas babando por mim, os olhos dele diziam tanta coisa. Um calor
invadiu meu corpo de forma inesperada. Pior, eu senti algo estranho acontecer
lá embaixo, entre as minhas pernas. O olhar dele, ao mesmo tempo que me
constrangia, pra minha imensa vergonha, também, de alguma forma, me fazia bem,
dava um sentimento... Gostoso... Um frio na barriga, dos bons. Eu só queria me
enfiar embaixo da terra, mas Juliana me deu um tampinha na bunda e disse
baixinho. "Vai desfila..."
Eu
dei alguns passos desajeitados. Eu não estava acostumado a andar de salto alto
e ainda tinha uma tonelada de vergonha sobre os meus ombros. Isso sem contar
toda a confusão que aqueles sentimentos bizarros aprontavam na minha cabeça.
Marcos
continuava em transe e eu sabia exatamente o que se passava em sua cabeça, ele
queria me comer, queria me agarrar ali mesmo e aquilo, minha nossa! Aquilo não
me deixava enojado como eu achei que deveria. O que estava acontecendo comigo?
As
meninas soltaram algumas vaias de brincadeira, dizendo que eu era uma péssima
modelo e finalmente Marcos recobrou a consciência. "Chega meninas, deixem
a Silvia em paz, hora do banho e depois de jantar."
"Tia
Silvia, era brincadeira, você não é uma péssima modelo..." Priscila disse
antes de sair.
Todo
mundo riu e eu puxei forças contra todo o constrangimento e confusão que me assolavam
naquele momento para dizer. "Eu vou treinar meninas, prometo!"
Elas
saíram risonhas e eu fiquei ali no quarto dentro daquele vestido que me fazia
transbordar sensualidade, sozinha, com o meu marido. Eu coloquei as mãos para
frente do corpo, sem jeito. Ele me olhava ainda sorrindo, simpaticamente, mas
eu ainda podia ver luxuria em seus olhos, a luxuria que me deixava estranho,
prazerosamente estranho.
Ele
brincou, me provocou para quebrar o gelo, como sempre fazia naqueles momentos
esquisitos. "Você comprou esse vestido pra você é? Quem diria..."
"Foi...
Foi a Juliana que... Bem... As meninas, elas..." eu balbuciei qualquer
coisa enquanto torcia os dedos das mãos.
"Eu
sei, eu sei, a Juliana com o jeito mandão dela e a Priscila com a carinha de pidona
são impossíveis de se controlar. Pode tirar o vestido, mas bem..." Então,
o rosto dele também deixou escapar constrangimento. "ele ficou
realmente... Bom... Ótimo em você... Sei que não... desculpa... eu..."
Deixei
ele ali falando e entrei no closet assustadíssimo. Eu gritava pra mim mesmo. “O
que foi que aconteceu ali?” Fiquei apenas respirando fundo por alguns minutos e
depois vesti as roupas de antes. Coloquei a mão na maçaneta umas quatro vezes
antes de ter coragem de encará-lo de novo. Quase comemorei quando voltei e vi
que ele estava no banho.
Me
joguei na cama pensando em tudo aquilo, será que ele estava começando a
confundir as coisas? E eu? O que estava acontecendo comigo? Que sentimentos
eram aqueles? Hormônios feminino? Reflexos desse corpo? Quando ele me olhou
daquele jeito, eu... droga... eu não achei ruim, na verdade, minha nossa, foi
bom. Será que eu estava virando gay? Eu nunca havia me sentindo atraído por
nenhum homem, não estou dizendo que estava atraído por Marcos, de jeito nenhum!
Mas aquilo... foi tão estranho.
Ele
saiu do banheiro quieto e olhando para qualquer lugar menos pra mim, eu fiz o
mesmo. Quando cruzamos olhares, rapidamente desviamos. Ele também estava
constrangido. Ele também havia sentido o algo estranho. Aquilo era um clima? Eu
estava tendo um clima com outro homem?
Eu
tinha que acabar com aquilo, respirei fundo, limpei a garganta e empostei a voz
para falar sério, tentando ignorar tudo aquilo. "Desculpa pelas compras
exageradas... Eu... Eu não fui capaz de segurá-las." Ele entrou no meu
jogo, também pareceu respirar fundo e tentar deixar toda aquela estranheza de
lado. Sorriu e tirou um bom tanto de peso do ar.
"Ah...
nem se preocupa, eu entendo bem... Pidona e mandona, lembra? Sei bem como são
minhas filhotas..."
"Mas
elas são demais, cara! São ótimas meninas, foi uma tarde divertida." Eu
disse 'cara' propositadamente, para tentar lembrá-lo e, bem, para
confirmar para mim mesmo também, quem eu realmente era. Um homem, que fala
‘cara’ quando se refere a outro homem e não ‘querido’. Ele não me corrigiu,
fingiu nem perceber também. Acho que funcionou para os dois.
"Elas
também adoraram, muito obrigado por cuidar delas!"
"Que
é isso... É o mínimo que posso fazer... Além do mais, como eu disse, não é nenhum
esforço, elas são incríveis, cara!"
Depois
do jantar falei com Marília no telefone e me senti um pouco melhor. Um pouco
mais eu, pelo menos. Ela estava um pouco preocupada com meu corpo habitado por
Sílvia, disse que ela sumia e a deixava sozinha por horas para depois ainda
voltar bêbada. A desgraçada estava aproveitando meu corpo do pior jeito
possível. Bom pelo menos, eu estava com a minha vingança do bem andando a todo
vapor. Ela teria uma surpresinha quando voltasse, todo mundo ia querer ela
participando muito mais dos deveres da casa e sendo muito mais simpática.
O
resto da noite passou sem nada muito diferente acontecer, eu só tentava
esquecer todo aquele clima, aquele maldito vestido e aqueles sentimentos
estranhos. Acho que Marcos também, senti que ele evitava me olhar. Dormi bem
mais desconfortável do que de costume aquela noite.
Acordei
cedo no dia seguinte, era o dia de Hopi Hari e aquilo me animava, seria um dia
todo distraído pelas garotas e longe daquele clima estranho com Marcos.
Vesti
o short mais comprido e menos justo que achei, um branco de tecido. O mais
comprido, mas mais curto do que eu gostaria, minhas pernas ficavam praticamente
inteiras de fora e ele ainda modelava minha bunda. Em cima vesti uma camiseta
justa roxa e nos pés uma sandália branca de salto baixo. Sabia que o dia seria
longo e queria ficar confortável.
Fora
do quarto, encontrei Priscila prontinha apressando Juliana que se movia
sonolenta. Tomamos café rapidamente, seguindo os pedidos da garota mais nova
para acelerarmos. Ela estava realmente ansiosa.
Apesar
de ser uma pequena viagem, chegamos rapidamente até ao parque com Priscila
empolgadíssima no carro, relatando tudo que iria fazer. O parque estava
relativamente vazio e nada atrapalhou nossos planos. Andamos em todos os brinquedos
que as meninas quiseram, repetimos os favoritos, almoçamos, tomamos sorvete e
aproveitamos tudo que o parque tinha a nos oferecer.
Tirando
os olhares masculinos e a vez que tive que dividir o assento de um brinquedo
com um adolescente que propositadamente encostava em mim mais que o necessário
e ainda olhava para os amigos se vangloriando de estar ao meu lado, o dia foi
ótimo e, como esperado, me tirou de todo caos de pensamento que eu estava.
Quase
na hora de ir embora, no fim da tarde, início da noite, meu celular tocou e
assim que a voz do outro lado falou, eu senti o maldito frio na barriga. Era
Marcos e eu me surpreendi muito ao sentir aquilo só de ouvir a sua voz. Ele,
como sempre, foi simpático e cuidadoso, querendo saber de nós. Eu contei um
resumo do dia, avisei que já estávamos saindo e depois que desliguei voltei ao
meu tormento mental. A voz do cara estava me dando frio na barriga? O que era
aquilo afinal? Eu estava virando a mulher dele, de verdade?
As
meninas até estranharam meu silêncio na volta. Eu disse que era apenas cansaço,
mas na verdade eu estava quase chorando de preocupação. Eu não tinha a menor
ideia do que estava acontecendo comigo e aquilo me assustava muito.
Tudo
ainda piorou quando chegamos em casa e eu vi Marcos. Ele sorriu saindo da
cozinha com um avental, o sorriso dele quase me derreteu, ele estava preparando
o jantar pra gente, ainda disse que tinha deixado a banheira preparada pra mim.
O sorriso, o olhar dele, as atitudes, tudo aquilo me deixava ansioso e extremamente
confuso, mas não tive como não abrir um grande sorriso e agradecê-lo.
Subi
até ao banheiro e, realmente, lá estava ela implorando para que eu entrasse
nela. Fumaça ainda saia da água enquanto eu tirava minhas roupas. Parecia que
Marcos estava lendo meus pensamentos, aquele banho era tudo que eu precisava.
Coloquei
um pé e senti a água o cobrindo como um leve e suave cobertor, quente e
confortável. Coloquei o segundo e em seguida fui me abaixando, a água me
abraçava. Quando me tocou ali no meio das pernas então, quase soltei um gemido.
Fui deixando meu corpo ser acariciado pelo líquido. Meus seios flutuavam um
pouco, eu não resisti e os agarrei, a sensação era incrível e não demorou para
influenciar na umidade da minha vagina.
Eu
sabia o que estava prestes a acontecer e aquilo fazia eu me sentir culpado.
Tentei me controlar, tentei tomar apenas o banho, mas aquela coisa que eu tinha
agora entre as pernas, parecia ter vida própria e implorava por atenção. Quando
percebi eu já estava me esfregando ali embaixo e colocar um dedo ali dentro foi
apenas uma conseqüência natural.
Acho
que posso ter gemido mais alto do que planejei, mas não foi aquilo que me
corroeu quando me recuperei de um orgasmo. Foram as imagens que passavam pela
minha cabeça enquanto eu me masturbava, disformes, embaçadas, mas com certeza
não eram Marília, pior, não eram nem imagens de mulheres. Os fantasmas que me
assombravam na banheira tinham todos o sorriso e o olhar de Marcos.
Terminei
o banho e sai desolado, confuso. Pensei em nem descer, pra não ter que
encará-lo, mas aquilo seria uma desfeita horrorosa. Odiei mais uma vez o closet
de Silvia, eu queria me esconder dos olhares de Marcos, mas ali só tinha roupinha
pequena, decotes e coisinhas justas. Tudo inha, tudo rosa, tudo justo. Acabei
com uma droga de uma calça legging preta e a camiseta do gato que chegava quase
nos meus joelhos. Sabia que iriam estranhar eu repetir a roupa, mas naquele
momento eu não queria nem saber.
Desci
devagar e quieto. A mesa já estava posta e todos me esperavam.
“Ufa
tia Silvia, até que enfim!” Priscila começou e Juliana continuou. “Estava
morrendo de fome!”
Marcos
apenas deu um maldito sorriso daqueles me deixava estranho e começou a servir a
comida. As meninas passaram o jantar contando as aventuras conquistadas no
parque. Umas duas vezes elas perguntaram confirmações pra mim e tiveram que me
chamar mais de uma vez. Eu não estava ali, eu estava travando um conflito
intenso com a minha masculinidade. Me desculpei, dizendo que era cansaço e nem
fiquei com eles vendo televisão após o jantar, que para piorar, ainda estava
uma delícia. Mais um acerto do meu marido!
No
quarto falei com Marília pelo telefone e deitei bem cedo, mas demorei muito
para dormir. Ainda mais depois que Marcos subiu. Eu fingi estar dormindo, mas
não era nada mais que puro fingimento, pois a presença dele só deixou minha
tranquilidade para pegar no sono ainda mais distante.
Acordei
duas vezes durante a noite suando frio, pesadelos com Marcos me agarrando
inundavam minha cabeça. Pela primeira vez ouvi ele acordar, mas não fiz
absolutamente nenhuma menção de demonstrar que eu estava acordado.
Com
ele fora da cama, finalmente consegui dormir mais tranquilo e só acordei com a
empregada batendo na porta. "Dona Silvia, a Fátima já chegou!"
Assustado e recém desperto, só respondi um desafinado. "Fátima?"
A
empregada respondeu meio impaciente. "É Dona Silvia... A manicure que vem
toooodas as quartas feiras..." Sem ter muito mais o que responder, pedi
para avisar que eu já estava descendo.
Levantei
o mais rápido possível, passei uma água no rosto, deixei meu cabelo
apresentável e terminei as higienes matinais. Vesti a legging de novo, preciso
confessar que era bem confortável, e uma camiseta regata rosa, mais comprida.
Fui de chinelo mesmo, suspeitava que minhas unhas ali seriam repintadas também.
Encontrei
a tal Fátima na sala, uma garota morena que devia ter mais ou menos a idade de
Silvia. Nos cumprimentamos com beijos no rosto. Percebi que as meninas estavam
na piscina enquanto eu me acomodava em uma poltrona. Fátima preparou as coisas
me perguntando da viagem e eu fui contando tudo dentro do personagem. Falei das
praias, dos jantares, tudo de um jeito que ouvi as outras mulheres falando na
praia. Eu estava virando uma mulher convincente.
"Vou
fazer na cor que você encomendou, certo?" Ela me perguntou e eu apenas
deixei tudo acontecer, não seria uma cor de unha que iria piorar minha
situação.
Ficamos
ali tagarelando e eu realmente estava me sentindo uma dondoca falando sobre
amenidades com a garota que fazia minhas unhas. Quando ela acabou, eu tinha dez
unhas muito bem pintadas de vermelho claro bem vivo, meio puxado para um
rosa-choque. Agradeci a manicure, me despedi e a empregada me avisou que o
almoço estaria pronto em meia hora. Definitivamente, aquela mulher não gostava
de mim, ou melhor, de Silvia. Era sempre seca e muitas vezes até ríspida
comigo. Não sei se eu a culpava tanto, eu mesmo não era nenhum fã da dona do
corpo que eu ocupava, mas ainda assim, era chato agüentar aquilo.
Fui
até o quintal e avisei as meninas, elas só saíram da piscina quando eu prometi
me juntar a elas por lá depois do almoço e foi o que eu fiz, após a refeição
obriguei as meninas a esperarem umas duas horas e depois, lá estava eu de
biquini de novo.
Passei
protetor solar e verifiquei se as garotas tinham feito o mesmo, em seguida, me
deitei no sol e peguei uma revista para ler. Era uma revista feminina, mas pelo
menos me distraía.
Depois
de algumas páginas lidas, percebi uma movimentação a mais na casa e para minha
surpresa, um garoto de uns vinte e poucos anos aparece na minha frente. “Boa
tarde Dona Sílvia...” Ele disse com um sorriso no rosto. Um péssimo sorriso
safado. Eu até coloquei uma toalha sobre mim enquanto me perguntava quem era aquele
cara.
“Vou
só fazer uma pequena poda hoje...” Ele disse respondendo meu questionamento
mental, devia ser o jardineiro.
Ele
ficou ali mexendo nas plantas, eu voltei a ler e as meninas variavam entre
brincadeiras na piscina e conversas comigo fora dela. Volta e meia eu pegava o
moleque jardineiro me olhando e aquilo começou a me incomodar muito.
Quando
o sol já começava a dar sinais de se por. Eu falei para as meninas entrarem e
irem pro banho. Eu planejava fazer o mesmo. Elas entraram correndo e eu fui
recolher toalhas e copos que tinham ficado por ali. De repente senti algo
agarrar o meu braço. Era o maldito jardineiro. “Finalmente ficamos sozinhos...”
Ele disse perto do meu ouvido.
Eu
arranquei meu braço do dele. “O que é isso?”
“O
que é isso digo eu, gata... Passei tanto esperando esse dia, tava com saudades.
Você foi viajar com o doutor idoso e me deixou aqui só com as plantas.” Ele disse
passando a mão na minha bunda, na minha cintura.
Eu
sai correndo, me livrando das mãos dele. “Vou ligar agora mesmo pra polícia
seu... seu...”
Entrei
na sala esbaforido e peguei o telefone, quando ia começar a discar uma mão
desligou o aparelho, me virei e vi a cara da empregada.
“Não
Dona Sílvia, isso eu não vou deixar a senhora fazer. O doutor Marcos é um homem
incrível e eu aguentei você o traindo com o meu sobrinho, bem debaixo do meu
nariz. Pensa que eu não sei? Agora sei lá o que te deu depois dessa viagem que
você tá toda diferente, mas eu, você não engana não! Isso é só mais um truque
barato para sacanear o doutor Marcos mais uma vez e pior, agora ainda quer
levar meu sobrinho pro buraco! Você é uma pilantra Dona Sílvia, nunca deixou de
ser uma... uma... prostituta.” Ela cuspiu tudo aquilo em mim, como se estivesse
guardado há anos. Foi um tremendo desabafo e eu só queria dizer que eu não era
a ‘Dona Sílvia’.
“Tia
Maria...” O jardineiro balbuciou com os olhos esbugalhados, pelo menos, a
partir daquele momento eu passei a saber o nome dela.
Eu
fiquei em silêncio, chocado. Eu não sabia o que dizer, nem o que pensar. A
Sílvia estava traindo o Marcos com um garoto, um jardineiro. Eu tinha só que
concordar com a empregada, com a Maria, Silvia ainda era uma vadia. Eu ocupava
o corpo de uma vadia sem vergonha que traía o marido dentro da própria casa
dele.
Devolvi
o telefone no gancho vagarosamente. Maria me olhou menos raivosa. “Desculpa
Dona Sílvia, eu... eu...”
Eu
a interrompi. “Não Maria, você tem razão....” Foi o que eu disse. “Isso nunca
mais vai acontecer...”
Ela
me olhou assustada, eu continuei. “Por favor, só não conte pro Marcos, ele não
merece isso.”
Ela
apenas acenou positivamente com a cabeça, pegou o sobrinho pela mão, embora
parecesse muito mais que ela o puxava pela orelha, e eles saíram, me deixando
ali, pasmo por ter participado de uma cena de novela, como um protagonista.
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