terça-feira, 10 de julho de 2012

UMA PROFUNDA TROCA DE CASAIS CAP. 04



Entrei no saguão e mais uma vez percebi como o mundo me tratava diferente. Todas as atenções se voltavam pra mim, praticamente cem por cento dos homens me olhavam em algum momento, mesmo as mulheres pareciam me analisar. Não encontrei ninguém por lá, nem Marília, nem meu corpo e nem Marcos.

Então me sentei num sofá e fiquei olhando o movimento. E também, vendo o movimento me olhar. Alguns ainda disfarçavam e ficavam envergonhados quando percebiam que eu havia notado, agora, tinham caras que olhavam descaradamente para os meus peitos, para as minhas pernas. Definitivamente, Marília tinha razão, eu realmente estava aprendendo bastante sobre o outro lado da cerca. Eu me sentia um objeto, era bastante desconfortável.

Quando eu estava quase desistindo de esperar para ir comer sozinho. Marília e Silvia chegaram.

Mais uma vez, meus antigos olhos me analisaram por inteiro assim que ficamos frente a frente.

“Hmmmm até que acertou na roupinha... mas ah não, esse cabelo não dá! Olha isso, você secou?” Foi a primeira coisa que minha antiga voz me disse.

“Sequei, deu trabalho, mas sequei... Por que, tá ruim?”

“Tá pééééssimo! Você usou secador?”

“Er... não... usei a toalha, não sabia que precisava usar sempre secador...”

“Ai meu deus! Preciso te dar uma aula urgente sobre isso... sorte sua que estou de bom humor...”

Novamente olhei para Marília pedindo socorro. Ela me olhou meio sem graça e rapidamente desviou o olhar. Finalmente aquilo começava a afetá-la também, eu pensei.

“Bom, vamos comer que eu estou morrendo de fome. Aliás, parece que estou sempre com fome, isso é normal?” Silvia perguntou pra mim.

“É, acho que sim” Eu respondi sorrindo.

O almoço foi um tanto quieto, ou melhor, na verdade foi bem barulhento, mas foi um monólogo da minha antiga voz. Silvia contou cada detalhe de seu jogo de futebol e não parava de dizer o quanto gostava do novo corpo, do meu corpo. Eu comecei a questionar o quão fundo ela tinha ido com o meu corpo, será que ela havia feito o mesmo que eu? Será que ela havia se masturbado,? Teria ela usado o meu pênis para obter prazer? Não. Eu pensei. eu só conseguia imaginar ela meio horrorizada e sem saber o que fazer com aquilo entre as pernas. Agora também, se tivesse feito, quem seria eu para julgá-la? Afinal, eu mesmo tinha me aproveitado das partes femininas do corpo dela e aquilo ainda me enchia de vergonha.

Quando o almoço acabou, Marília disse que estava muito cansada e que precisava dormir, Silvia a acompanhou e elas simplesmente me deixaram ali, sozinho. Aquilo me deixou bastante incomodado, o que eu iria fazer? Voltaria pro quarto para dar de cara com o mau humorado do Marcos? Passearia pelo hotel de shortinho, enquanto cada homem que cruzasse comigo virasse a cabeça para olhar minha bunda?

Decidi arriscar o quarto, quem sabe Marcos ainda estivesse fora. E pra minha sorte, ele estava. Deitei na cama e liguei a TV, nem vi direito o que passava, pois rapidamente adormeci.

Acordei assustado como se tivesse acabado de ter um pesadelo. Seios, cabelos compridos e vagina eu ainda era uma mulher. A TV estava desligada, me sentei vagarosamente, respirei fundo e levantei sem nem saber que horas eram.

Fui direto para o banheiro, passei água no rosto, olhei pro espelho e vi aquele rosto feminino me encarando. Aquela enorme boca, o minúsculo nariz, os olhos verdes. Como era bizarro. Será que seria possível se acostumar algum dia? Será que eu corria o risco de ser Silvia pra sempre? Ser mulher pra sempre? Tentei afastar os pensamentos com mais água gelada no rosto e saí do banheiro.

Encontrei Marcos na salinha lendo um livro. Assim que entrei ele fechou o livro e me olhou. “Eu desliguei a TV, você estava dormindo...”

“Tudo bem... claro... que horas são? Nem sei quanto dormi.”

Ele olhou no belo relógio que usava. “Quase oito e meia.”

“Nossa, eu dormi demais.” Abri o frigobar e peguei uma garrafa de água.

“Lucas...” Marcos disse enquanto eu dava o primeiro gole. Eu olhei pra ele esperando alguma mau criação.

“Eu... eu queria pedir desculpas.” Ele disse e eu quase engasguei de susto.

“Eu sei que isso não é culpa sua, fui um babaca, isso deve tá sendo um horror pra você e eu nem pensei nisso.”

Eu coloquei a garrafa sobre o frigobar e arregalei os olhos pra ele.

“É sério, desculpa aí, eu podia ter sido bem mais compreensivo... é que a Sílvia, ela fica agindo daquele jeito, como se tivesse gostando de tudo isso... eu não entendo...”

“Pois é... isso também me tira do sério, é ridículo! Mesmo a Marília, ela fica lá fingindo ser mulher dele... quer dizer...” Ele balançou a cabeça concordando. “Isso, você entendeu, sei que é meu corpo, mas porra...” Ele riu.

“É bem engraçado ver a Silvia, quer dizer o corpo da Silvia, falando assim...”

Eu também ri. “E ela falando no meu então, eu pareço totalmente gay!”

Ficamos ali conversando por um bom tempo e a tensão se esvaía a cada minuto. Pela primeira vez depois de toda a maluquice ter acontecido, eu estava falando tudo que pensava sem a maluca da Silvia me interromper ou a sempre certa Marília me dar alguma lição de moral sobre o fato de ser mulher não ser o fim do mundo.

Eu pude reclamar daqueles cabelos gigantes, dos peitos que balançavam e ficavam no meio do caminho toda hora, das unhas compridas, dos caras me olhando. Marcos simplesmente ria inconformado e concordava comigo, entendia a dificuldade toda que eu estava passando.

Nossa conversa foi interrompida pelo telefone do quarto. Eram as garotas querendo jantar. Não tendo muito escolha sobre o que vestir, acabei colocando uma dessas calças legging preta. Ela ficou bem agarrada no meu corpo, me deixando com uma humilhante pata de camelo na frente e transformando minha bunda em algo ainda mais espetacular do que já era, mas ainda assim me parecia melhor do que o minúsculo jeans e eu não agüentava mais usar shortinhos ou mini saias.

 Obviamente coloquei uma camisa bem comprida, para esconder minha anatomia feminina sensual, o problema é que era ela inteira cor de rosa e ainda estava escrito “I ‘heart’ Pink” na frente, bem grande com letra cursiva. Mas enfim, era a única que tinha o comprimento que me deixava seguro o suficiente para sair sem achar que eu esfregaria minha bunda e minha vagina na cara de todo mundo. Nos pés, calcei as mesma sandálias que já estavam virando minha peça de roupa feminina preferida, até porque, era a única coisa sem salto alto que eu encontrava. Bom, também tinha um tênis Nike, inteiro cor de rosa, mas achei que a camiseta já tinha rosa o suficiente para o momento e me mantive leal a sandália de dedo.

Saí do quarto me sentindo bem mais feminino do que eu gostaria, mas pelo menos agora, com Marcos menos carrancudo, o clima estava mais leve.

Quando nos encontramos, Silvia elogiou minha vestimenta de novo, mas disse que eu deveria ter ido com a sandália azul de tira. Agora o pior foi o que ela disse depois. “Se a próxima vez que eu te vir, você estiver com esse cabelo horroroso e sem nada de maquiagem. Eu juro que saio de batom e com um laço na cabeça. Olho por olho, dente por dente.”

Procurei pelo olhar de Marília, mas assim como no almoço, ele fugiu de mim, foi Marcos quem interviu.

“Deixa de ser ridícula Silvia, fazer o cara se maquiar? Ele nem sabe fazer essas coisas...”

“Marcos, é o meu corpo que está ali todo mau tratado, eu estou avisando. Saio de batom e laço cor de rosa. Pode apostar!”

Não valia a pena discutir mais, então apenas nos sentamos no restaurante e tivemos, novamente, um monólogo de Silvia com a minha voz. Marcos parecia tão entediado quanto eu e Marília estranhamente quieta e introspectiva.

O motivo daquele comportamento da minha mulher finalmente se revelou quando antes de pedir a sobremesa, ela pediu para eu ir no banheiro com ela. Me senti ainda mais feminino como uma das garotas que saem jutinhas para ir retocar a maquiagem, mas mal sabia eu que a coisa estava pra piorar muito mais.

Depois de eu me sentar pra fazer xixi e me limpar como uma educada donzela, Marília me parou na frente das pias. Eu olhei para cima e vi que seus olhos estavam brilhante, prestes a derramarem lágrimas.

“Lucas, preciso te contar uma coisa...”

Já extremamente preocupado respondi. “Pode falar...”

“Eu ia tentar esconder isso, mas eu não consigo, simplesmente, não consigo...”

“Marília, fala logo, eu estou ficando preocupado.”

“Eu... eu... a gente.. a gente transou... É isso, a gente voltou da praia hoje, eu tava bêbada e droga! Era o seu corpo, o corpo que eu sempre desejei, não resisti... eu...”

Aquilo caiu como uma bomba em mim. Eu olhei pra baixo e vi aquele tecido cor de rosa deformado pelos meus melões. Eu vi meu pequenino pé de unhas pintadas. Me revoltei ainda mais com aquela situação, morri de raiva de ser pequeno, de ser mulher, de ter uma droga de uma vagina entre as pernas, enquanto Silvia, meu deus, enquanto Silvia usava direitinho o que eu costumava ter entre as pernas: o meu pênis! E eu achando que ela nem tocaria nele. Pior que isso, ela o usou por completo, enfiou na minha mulher! Eu me culpava por uma simples masturbação enquanto as duas fodiam pelas minhas costas. Me senti um imbecil, um imbecil usando calça apertadinha e camiseta rosa.

Marília estava ali, me contando que tinha me traído, que tinha transado com outra pessoa, com o meu corpo, mas com outra pessoa dentro. Ela começou a chorar e eu também senti meus olhos encherem de água. Eu não sabia nem o que falar, eu só desejava que aquilo tudo fosse um pesadelo.

“Lucas... desculpa, eu... era o seu corpo. Era você...”

“Não era eu... você sabia disso.” Eu disse seco e magoado,

“Por favor, me perdoa, isso é tão confuso...”

Eu não queria ficar mais perto dela, saí do banheiro enquanto ela chamava por mim. Nem passei pela mesa. Não queria falar com aquela desgraçada que estava comendo minha mulher com o meu corpo.

Fui direto para o quarto e me deitei na cama, no escuro. Chorei como a mulher que eu aparentava ser, chorei e me desesperei. Queria arrancar aqueles malditos seios a força, queria dilacerar aqueles cabelos enormes e exageradamente loiros.

Não sei quanto tempo fiquei ali, remoendo, minha dor, tentando entender aquela maluquice toda. Que tipo de traição bizarra era aquela? Eu pensava. Era o meu corpo, mas era uma mulher dentro dele. Será que Marília tinha gostado mais? Será que Silvia tinha me superado na tarefa de satisfazer a minha mulher? Será que esse seria meu destino, Silvia talvez soubesse usar meu corpo melhor que eu e eu teria que ser essa loira peituda pra sempre? Cada questionamento desse era como uma facada no meu coração.

Marcos entrou silenciosamente no quarto enquanto eu ainda chorava. Droga, isso me humilhava ainda mais.

“Elas me contaram tudo também.” Ele me disse sem nem acender a luz do quarto. Ele soava tão magoado quanto eu.

“A Silvia... droga, ela parece ter enlouquecido com essa história...” Ele disse enquanto sentava na beira da cama e afundava a cabeça entre as mãos.

“Cara, que pesadelo...” Ele bufava e dizia. “Você, você tá bem?”

Eu soltei um riso cínico. “Bem? Eu to péssimo, olha pra mim. Eu to chorando como uma garotinha, minha mulher deu pra outra pessoa, mas outra pessoa dentro do meu corpo. Fora isso ainda tenho que lidar com esses peitos que ficam no caminho toda hora e esse cabelo. Eu não sei nem mais o que pensar... Eu já nem sei mais quem eu sou direito...”

Ele colocou a mão sobre a minha perna. “É...” Ele também soltou um riso derrotado. “Que situação... mas isso acaba amanhã, tem que acabar.”

“Acaba?” Eu perguntei desolado. “Mesmo de volta ao meu corpo, o que aconteceu vai continuar tendo acontecido. O que será do meu casamento agora?”

“O que será de nossos casamentos?” Marcos retrucou gravemente.

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