Eu estava tremendamente feliz, eu realmente queria aquilo. Estava lá vestindo um smoking bem cortado, de pé, esperando a mulher que eu amava entrar.
A música calou os convidados e eu pude vê-la ainda de longe entrando ao lado de seu pai. Mesmo dali dava pra ver como ela estava linda. Eu estava hipnotizado, emocionado, totalmente imerso no momento.
“Ei, o que você tá fazendo aqui?” Uma voz conhecida me tirou no transe.
Eu olhei para trás e vi o que podia ser um espelho, mas não era, pois se mexia diferente e não estava preso a nenhuma moldura.
“É o meu...” Minha voz falhava, saía de um jeito diferente. “É o meu casamento, eu sou noivo.” Minha voz estava mais fina, eu comecei a me desesperar.
“Noivo?” Meu clone gargalhou, as pessoas em volta o acompanharam, inclusive o padre.
“Que noivo é esse que pinta as unhas de rosa?”
Eu olhei para minha mão e elas estavam diferentes, menores, mais delicadas e, meus dedos, realmente ostentavam unhas compridas pintadas de rosa. Além disso, meu clone agora parecia um gigante perto de mim.
O medo me assolava. Eu abria e fechava os olhos, desesperado, mas as unhas continuavam ali, rosas.
As gargalhadas eram ensurdecedoras, mas eu pude ouvir, quando ele continuou.
“E um noivo por acaso tem cabelos tão compridos e usam penteados tão femininos?”
Novamente, o que ele falou se tornou verdade, pus a mão na cabeça para constatar que meus cabelos eram bem loiros e estavam construindo um elaborado penteado, cheio de fitas e fivelas.
“Para com isso!” Eu gritei, minha voz era aguda como a de uma mulher.
“Eu paro, mas agora saia do meu lugar ou ainda vai insistir que é um noivo, mesmo vestido assim... de noiva...”
Não tinha mais smoking, não tinha mais sapatos, nem calças. O que vi cobrindo meu corpo era um vestido de noiva, cheio de enfeites brancos, era enorme e exageradamente feminino.
Eu queria enfrentá-lo, queria arrebentar a cara dele. Mas ele era tão maior que eu, e a verdade é que eu realmente estava vestida de noiva. A única coisa que consegui fazer foi chorar, o que apenas fez as gargalhadas aumentarem.
Olhei para frente da Igreja e Marília já estava bem próxima e também ria, assim como seu pai. Riam de mim.
De repente uma mão pegou meu braço. “Vem querida, vamos sair daqui, nosso casamento é em outro lugar...”
“Não!” Eu gritei. “Eu não sou mulher! Eu não sou noiva! Eu sou homem...” Então agarrei Marília, que também era mais alta que eu, e a sacudi. “Fala pra eles, fala que eu sou seu noivo!”
Ela gargalhou. “Ficou louca queridinha, meu noivo está ali.” Ela apontou pro meu clone que deu um tchauzinho cínico. “Silvia é o meu noivo, ela é tão boa de cama, ela é o melhor homem que eu já tive!” A igreja foi um coro de gargalhadas.
“E convenhamos, garotinha safada, você devia cobrir melhor esses seus melões, essas suas tetas...”
Então senti um peso gigantesco no meu tórax. Olhei para baixo e vi seios gigantescos desnudos, grudados em mim. Meus seios e eles cresciam a cada segundo até ficarem tão enormes, tão pesados que me derrubaram pra frente e eu fiquei numa posição ridícula sem conseguir me mover, minhas pernas foram jogadas pro alto e ficavam apenas balançando. Meus contatos com o chão eram meus seios e eu estava ali preso, sem saída.
As lágrimas caíam dos meus olhos como uma forte cachoeira, os risos invadiam o meu cérebro, eu achei que ia explodir, mas na verdade acordei gritando.
Eu ainda tinha lágrimas umedecendo meu rosto, os peitos ainda estavam ali, só que de um tamanho razoável. Mas tudo aquilo fora apenas um pesadelo dentro do pesadelo.
Marcos entrou no quarto preocupado. “O que foi? Tá tudo bem?”
Eu até tive que rir. “Tudo, tudo, foi só um pesadelo ridículo.”
Ele também sorriu. “Bom, tenta dormir mais um pouco então. Amanhã tudo isso acaba.”
Eu concordei com ele e voltei a tentar dormir, o que estava sendo tremendamente difícil, no começo foram as tentativas de Marília conversar comigo via telefone, eu a dispensava dizendo para deixar pro dia seguinte. Foram cinco ligações. Depois ela ainda foi até o quarto, mas eu realmente não estava preparado para nenhuma conversa. Eu nem queria vê-la naquele momento, eu me sentia muito humilhado, não queria discutir minha relação com ela daquele jeito, com aquela voz aguda e seios balançando no meu peito. Eu estava confuso, mais que isso, eu estava morrendo de medo, precisava ficar sozinho. Foram quase meia hora de argumentos como esses para dispensá-la.
Marcos teve problemas similares com Silvia e por fim, foi meu bizarro pesadelo que nos roubou ainda mais horas de sono.
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